Para o Rui Marques, causar um impacto positivo na vida das pessoas é um dos seus propósitos pessoais, que também põe em prática enquanto CEO da 7Graus. Uma empresa onde a capacidade de comunicação e a empatia estão sempre presentes.
(Marta Pinto) – Olá, este é o podcast do Culture Code, eu sou a Marta.
(Luis Simões) – E eu sou o Luis, e ambos fazemos parte da LemonWorks, onde ajudamos empresas a criar um ambiente de trabalho com propósito e significado.
Rui Marques, o nosso convidado deste episódio, tem como um dos propósitos pessoais causar um impacto positivo na vida das pessoas. Isto reflete-se no que faz no seu dia-a-dia e também no que faz enquanto CEO da 7Graus, que é uma empresa onde se cria e distribui conteúdos online gratuitos para ajudar a melhorar a vida das pessoas. Para a motivação das equipas com quem trabalha e para uma base sólida para os projetos que criam, o Rui acredita que os aspectos fundamentais são a ambição, a capacidade de comunicação e empatia.
(Marta) E agora, temos é que por toda a gente a jogar legos! Não é?
(Luis) Não se joga legos, constrói-se Marta!
(risos)
(Marta) Meu deus! Eu tenho de ser a primeira, ok?
(risos)
(Rui Marques) Sabes que na semana passada fizemos uma dinâmica com Lego Serious Play e descobrimos uma app em que tu tiras uma fotografia às peças que tens em cima da mesa e ele diz-te ‘Ok, podes construir isto.’
(Marta) Rui, muito obrigada por te teres juntado a nós neste podcast, e partilhares connosco sobre a tua experiência e sobre o que é a cultura de trabalho da 7Graus.
(Rui) Obrigado pelo convite. É um prazer imenso.
(Marta) Rui, tu tens crianças de 10 anos à tua volta, contactas com algumas?
(Rui) Tenho. Tenho três filhos, por isso contacto com várias crianças frequentemente.
(Marta) Então como é que explicarias aos teus filhos sobre o que é que tu fazes no teu trabalho, ou como é que tu lhes explicas?
(Rui) Olha é curioso porque já fiz este exercício várias vezes com os meus filhos. E ainda recentemente tive que o fazer. Eu acho que a melhor ilustração que eu consigo fazer sobre aquilo que eu faço, é um pouco pegar na ideia dos legos, e explicar-lhes que ‘Vamos imaginar que eu na minha empresa, ou nas empresas onde estou envolvido, a minha principal responsabilidade é pegar nas várias peças de lego que temos ali disponíveis, e tentar encaixá-las para que no final aquilo, tudo funcione e as coisas aconteçam. E que o objetivo que nós temos, ou a missão neste caso, a missão da empresa se concretize tentando colocar ali as peças todas no sítio certo.’ E parece que e+quando estou aqui a falar, parece que…não estou aqui a objetificar as pessoas, mas estou a falar efetivamente de tentar colocar as pessoas certas no sítio certo, criar as condições para que elas façam um excelente trabalho, e que tudo isso junto no final se vê no concretizar da missão da empresa. Acho que é uma boa ilustração do que eu faço no meu dia-a-dia, é isso, tentar olhar para todo o sistema e que no final conseguir que o sistema tenha o desempenho o melhor possível que é concretizar a missão da empresa.
(Luis) E já me ganhaste logo com os legos! Eu sou um amante de legos, por isso goi logo aí … Mas estava a pensar que se calhar até quando eras mais novo, até gostavas, ou sonhavas que podias ter um trabalho que fosse brincar com legos…
(Rui) Pensei que ias dizer que eu gostava de legos. Eu gostava muito de legos é verdade, e ainda gosto.
(Luis) E se calhar sonhavas até ter um trabalho de legos, ou pelo menos é possível, mas se calhar não achavas que os legos seriam estes, que as peças seriam estas! Como é que a tua história de vida te trouxe até esta tua função? O que é que foi acontecendo que te levou neste na momento na 7Graus, ou a teres começado e depois a teres este papel mais de sistematizar esta perspectiva dos legos e das peças e das funções. Como é que isso aconteceu?
(Rui) Eu tenho uma experiência pessoal de alguém na minha família, neste caso em concreto o meu pai, que sempre foi empreendedor. Ele tem ainda, e trabalha na empresa dele e teve várias empresas e sempre olhei como um exemplo. Eu acho que desde miúdo que eu sempre quis ter uma empresa, sempre quis criar uma empresa. Isto associado ao facto de em criança eu brincar muito tempo sozinho, com os meus e ter muito tempo livre. Sempre fui habituado a ter que inventar brincadeiras, seja com legos, seja na rua, com bicicleta…criar a minha própria brincadeira e com os meus irmãos, criar esses momentos de brincadeira. Acho que sempre gostei de criar coisas e construir coisas. E o que me motiva é esta parte da construção e da criação das coisas. Se calhar é que eu e a 7Graus estamos envolvidos em tantas empresas, e acabo por ter algum tipo de influência em algumas delas, e eu acho que é isso que me motiva. É construir coisas mesmo quando não é construir, ou seja, de dentro de uma empresa construir algo de novo, mas acabo por sempre melhorar alguma coisa, otimizar alguma coisa, ter sempre algum momento de construção e é isso que me motiva ainda hoje.
(Marta) Estou a pensar aqui, quando nós olhamos para a 7Graus e lemos sobre a 7Graus, e vamos ao site e vemos os imensos projetos que a 7Graus desenvolve. Vocês têm as palavras-chave da visão, da criatividade, desse futuro, da proatividade, das pessoas, então, pensando nessas peças todas e nesse conjunto de pessoas que estão a trabalhar na 7Graus e que fazem todos esses projetos acontecer, vocês têm uma cultura de trabalho de fazer isso, de fazer esses projetos acontecer. Partilha connosco o que é que é o mais óbvio dessa cultura de trabalho da 7Graus, e depois aquilo que não é tão óbvio, mas que também acontece e também é muito importante.
(Rui) Eu diria que nós na 7Graus temos coisas muito concretas que definem a nossa cultura. Acaba por ser um bocadinho a constituição da 7Graus se é que lhe podemos chamar assim, e é algo que desde o primeiro momento em que alguém começa a fazer parte da equipa da 7Graus nós tentamos passar. Em primeiro lugar, qual é que é a nossa missão. E a missão é ajudar a melhorar a vida das pessoas através dos conteúdos que nós produzimos e distribuímos de forma gratuita, ok? Isto é a razão pela qual nos levantamos de manhã para ir trabalhar. Agora se calhar não nos temos que levantar para ir para o trabalho…(risos)…mas temos que nos levantar da cama (risos). É essa a missão da 7Graus. Nós também nos regermos por três valores, que é a atitude que nós esperamos, ou a forma como nós fazemos as coisas. São três valores muito simples: empatia, integridade e eficiência. São estes três valores. Há uma razão para estes três valores, e eles são explicados e passados a toda a equipa. A nossa visão ou os nossos objetivos para os próximos anos…e não vou dizer que é para este ano, que é para o próximo ano, que é daqui a cinco anos, acaba por ser um never ending game não é? Quer dizer que estamos sempre a tentar alcançar este objetivo. É chegar a cada vez mais pessoas. Neste momento os conteúdos da 7Graus são consumidos por cerca de duzentos e cinquenta milhões de visitantes aos nossos conteúdos por mês, nós queremos chegar aos mil milhões. Parece assim uma coisa quase inatingível, mas o facto é que nós quando colocamos este objetivo éramos quase cem milhões, hoje em dia somos duzentos e cinquenta…isto foi há três anos atrás e estamos ainda a tentar escalar estes conteúdos para chegar a mais pessoas. Isto é aquilo que nós temos na nossa constituição da 7Graus. O que é que não é tão visível, se calhar de formas a que quem está dentro acaba por perceber isso, é que há um foco muito grande no desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas que fazem parte da 7Graus. Por exemplo, faz parte da cultura nós termos por exemplo conceitos de Comunicação Não Violenta, nós trabalhamos isso bastante; o Desenvolvimento Pessoal, nós temos vários tipos de formação, etc; temos Coaching disponível para quem quiser. Incentivamos o Feedback constante entre as pessoas através das ferramentas, lá está, de Comunicação Não Violenta, etc, etc. Há este foco…da mesma forma que a missão da 7Graus é ajudar a melhorar a vida das pessoas, não faz sentido que nós queiramos fazer com as pessoas que consomem os nossos conteúdos e não aproveitar para que as pessoas que fazem parte da equipa não tenham oportunidade de crescer e transformar o seu mindset, uma série de coisas. Por isso tentamos acompanhar isso, dar uma série de ferramentas e apoiar nesse sentido.
(Luis) Em que é que sentes que essas ferramentas que vocês dão às pessoas depois têm impacto no dia-a-dia. Essa perspectiva da Comunicação Não Violenta, esse grande foco no desenvolvimento pessoal, provavelmente isso foi uma coisa que gradualmente foi acontecendo cada vez mais. Como é que viste o impacto disso, na própria 7Graus?
(Rui) Uma das coisas que reforçamos é ter feedback constante. Vou-te dar aqui um exemplo. Feedback constante, parece uma coisa simples. Ok, quando tu vês que alguma coisa está errado, tu deves ir junto de alguém e dizer ‘Vi alguma coisa que está errado, vamos tentar melhorar isto, vamos tentar resolver.’ Como também quando tu vês um comportamento que não te agrada tanto num colega teu, ou que não está alinhado com os valores da empresa e da atitude que é esperada por toda a gente, é incentivado que tu dês feedback aquela pessoa. Isto parece muito simples, não parece? Mas na realidade é difícil, para umas pessoas mais do que para outras. Nós temos aquela ideia que quando eu vou dar feedback a alguém sobre alguma coisa que não gostei ou não está alinhado com os valores da empresa, isto é difícil, para algumas pessoas mais do que outras. Há pessoas para quem isto não é difícil, mas não têm o resultado que é esperado, que é o resultado de uma melhoria ou de resolver um problema qualquer. Pelo contrário. As pessoas não têm ferramentas para comunicar e se expressar de uma forma assertiva, de uma forma que não vá incomodar a outra pessoa, ou seja, principalmente que tenha o resultado que nós esperamos com aquela comunicação. E por isso é que é importante esta questão da Comunicação Não Violenta, etc. E tenho imensos exemplos em pessoas que tinha extrema dificuldade em dar feedback a um colega, e nós incentivamos, fazemos o trabalho de acompanhamento, de coaching, etc, etc, e ao longo destes anos eu tenho visto…olhando para trás vejo pessoas com um determinado tipo de atitude comportamental há uns anos atrás e hoje em dia são completamente diferentes, a forma como se relacionam, como comunicam, a forma como crescem do ponto de vista profissional, como aceitam os desafios. É muito gratificante e é fantástico ver isso a acontecer.
(Luis) Acho que é muito interessante, porque muitas vezes o que as organizações fazem é dar essas ferramentas, mas a um conjunto muito específico de pessoas. Pessoas que estão num cargo de gestão terem, essas ferramentas. Mas percebo que a vossa ideia, e alinhado com algumas das coisas que já falamos no passado Rui, tem a ver com esta perspectiva de vocês acreditarem mais que as pessoas todas tenham as ferramentas e por isso poderem elas próprias resolverem os seus problemas, e com isto reduzir inclusive as hierarquias e tentar que a organização seja o mais flat (plana) possível.
(Rui) Exatamente. Para nós não faz qualquer diferença se tens um cargo ou outro cargo. Como eu digo, isto é quase a constituição, é aquilo que qualquer pessoa pode dar como garantido na 7Graus: uma série de ferramentas e incentivo para as usar, para as pôr em prática, para crescer, para transformar, para aprender, para evoluir. Não só damos essas ferramentas que estão à disposição de toda a gente, como incentivamos. E os resultados…é fantástico ver isso a acontecer!
(Marta) Essas ferramentas, imagino que também tenham muito impacto na forma como as pessoas e as equipas colaboram. Há alguma coisa que vocês façam também para promover a colaboração, para além dos exemplos que tu já deste?
(Rui) Sim, nós, por exemplo, nesta situação do trabalho remoto que hoje em dia falamos muito. É algo que no caso da 7Graus existe desde o início. Trabalho remoto é algo que nós já fazemos desde a fundação da 7Graus. Anteriormente à 7Graus eu já tenho experiência de trabalho remoto com pessoas em vários países há bastante tempo. As ferramentas que existiam na altura, e as formas de comunicação que existiam na altura eram bastante diferentes daquilo que temos hoje em dia. E por isso no caso concreto do trabalho remoto, temos feito um trabalho específico de perceber o que é que funciona, o que é que não funciona, quais são as melhores práticas, o que é que outros estão a fazer. E trazer isso para dentro da equipa para que no final a colaboração seja o mais eficiente possível. É um exemplo da forma como nós trabalhamos a colaboração. Outra questão que também fazemos muito na 7Graus é que estamos sempre a mudar tudo. Que é um bocadinho…às vezes pode parecer um bocadinho estranho. Mas ok temos uma estrutura montada de uma determinada maneira, ou temos um sistema ou parte do sistema está organizado, estruturado de uma determinada maneira, nós estamos sempre a olhar para ele ‘Isto não está eficiente’. Lá está é um dos nossos valores. ‘Isto não está eficiente, vamos mudar, vamos reorganizar’, sempre com o intuito de cumprindo cada vez melhor a missão da empresa e a colaboração aqui é essencial entre todos.
(Luis) Estavas a falar desta parte da colaboração e de como é que as equipas vão buscar…e acho essa parte importante…ter a humildade de perceber que outros podem estar a fazer melhor do que nós estamos a fazer. Mas como é que vocês lidam com o vosso trabalho, especialmente falando dos sucessos mas também dos erros. Como é que isso se enquadra na vossa cultura, essa celebração tanto de uma coisa ou da outra? Como é que acontece no dia-a-dia?
(Rui) A celebração do erro acaba por ser se calhar um bocadinho clichê, um bocadinho hype false celebração do erro. Eu acho que na realidade ninguém gosta do erro. Nós podemos gostar do erro porque encontramos uma coisa que está mal ou que fizemos mal, ou que não teve o resultado que esperávamos e ‘OK, estou a descobrir isto, e isto é uma oportunidade de melhoria e de crescimento.’ Eu acho que na 7Graus nós temos esta característica muito forte de procurar a melhoria, sempre otimização, sempre, sempre mais eficientes, sempre a fazermos melhor. Em alguns momentos pode parecer que estamos sempre à procura do erro. Mas nós não estamos à procura do erro. Nós estamos à procura da melhoria constantemente. E quando encontramos algo que não estamos a fazer bem, não é com o objetivo, como em algumas organizações existe de ‘Quem é que está a fazer o erro?’ ou ‘Quem é que fez o erro?’. Não é esse o objetivo. É ‘Como é que nós podemos ser melhores, como é que nós podemos fazer isto melhor, o que é que não está a funcionar?’ E vamos fazendo isto gradualmente. Existe muitas vezes muito o foco na resolução do problema, na procura do problema, na procura da otimização e da melhoria. Às vezes quase que até nos esquecemos de ‘Olha, mas isto está a correr não é?’ Por isso nós forçamo-nos, porque esse mindset de melhoria, de uma procura é constante…Nós forçamo-nos a ter momentos de parar e olhar para trás e fazer uma retrospectiva e dizer ‘Ok, o que é que nós estamos a fazer melhor que não estávamos a fazer? Qual é o nosso progresso? Como é que foi o progresso neste objetivo, ou nesta função, ou nesta equipa nos últimos três meses, dois meses, uma semana?’ o que quer que seja. Temos que nos forçar a fazer isso, porque faz parte da nossa cultura esta questão da procura sempre da melhoria.
(Marta) Então estou aqui a imaginar que esta ideia de conflito, e de como é que se integra o conflito numa cultura de trabalho que procura ter essa visão de crescimento e de melhoria, e de empoderamento pessoal … desenvolvimento pessoal para que toda a gente consiga comunicar melhor. Por aquilo que estavas a dizer do erro, eu imagino que o conflito também não seja visto como uma coisa importante, mas sim a resolução dele.
(Rui) Sim, mais uma vez eu recorro aqui aos fundamentos da cultura. Quando nós falamos em empatia, o conteúdo é extremamente importante, mas quando é feito com empatia, nós estamos a falar do problema, não estamos a falar das pessoas. Existe um conflito de ideias para resolvermos um problema, ou para inovarmos, ou para melhorarmos, e o conflito não é entre pessoas. Mas para isto acontecer, para que o conflito de ideias aconteça sem ser confundido com um conflito de pessoas, tem que haver uma série de ferramentas, nomeadamente a questão da Comunicação Não Violenta, para nós separarmos o ‘eu’ ou o ‘nós, quem somos nós’ do problema que estamos a tentar resolver. Ou seja, às vezes é complicado. ‘Olha isto…caqui foi feito um erro’…há pessoas que interiorizam rapidamente ‘eu sou um erro’ ou ‘eu fiz um erro.’ Temos muito de trabalhar esta parte da pessoa em si, para a pessoa se dissociar do erro, do problema, porque é a única forma de conseguirmos ter um conflito saudável.
(Luis) Estava aqui a pensar nesta parte do eu, e estavas a falar de como é que as pessoas recebem esta informação, e há aqui sempre uma parte importante de quando as pessoas gostam do sítio onde estão a trabalhar, e estou aqui a assumir que as pessoas gostam de trabalhar na 7Graus, depois como é que isso se equilibra com…ou seja, mesmo tendo práticas onde queremos que as pessoas estejam bem, tu próprio falaste disso, que as pessoas possam melhorar a sua vida…como é que a 7graus olha para esta parte do equilíbrio do trabalho, do trabalho que nós gostamos de fazer, e depois as nossas necessidades de interação e de vida pessoal? Eu sei que elas às vezes interligam-se, mas como é que olham para essa situação?
(Rui) Hoje em dia muita gente fala sobre isso, não é? Cada vez mais tem de haver um equilíbrio entre a vida profissional…Eu acho que na 7Graus nós sempre tivemos esse cuidado, mas não foi intencional, sempre foi muito orgânico. Acho que também tem muito a ver com os fundadores, quer eu quer o meu co-fundador, já viemos de uma experiência anterior em que havia muito essa preocupação. E nós sempre fomos gerindo o nosso trabalho em conjunto com a exigência da nossa vida pessoal. Isso para nós sempre foi natural, e nós não aceitamos, nem vemos que as outras pessoas que fazem parte da equipa, tenham que fazer algo diferente. Mas é curioso que nós temos que desconstruir isso em muitas pessoas que entram na equipa. Ainda hoje estava numa reunião com a equipa toda da 7Graus e estava a falar desse assunto. Há pessoas que quando chegam, nós temos que lhes dizer ‘Olha, quando tu vais ao médico, não precisas de trazer uma justificação de que foste ao médico.’ Mas ainda há pessoas que trazem esse…que vêm com esses conceitos. E é normal, porque há muitas organizações que fazem isso e exigem isso. Mas isto para nós é algo extremamente natural e orgânico, para nós não tens que avisar…ainda para mais agora em modo remoto tu podes não estar a trabalhar. Nós não te vemos, porque nós não estamos no mesmo espaço físico todos juntos, mas não há problema nenhum. Repara, o que eu acredito é que não há equilíbrio entre vida pessoal e vida de trabalho. Só tens uma vida, não tens duas vidas! Não é? Por isso tem que haver um equilíbrio na tua vida. Como é que tu vais conseguir trabalhar, por exemplo, se estiveres…agora que estamos neste contexto de teletrabalho e tivemos a questão do confinamento, crianças em casa, filhos em casa, aulas em casa…Como é que eu vou exigir a alguém que esteja a trabalhar no horário de trabalho normal, se tem os filhos em casa em aulas online, desesperados porque não conseguem fazer as aulas? Tu não vais conseguir fazer um bom trabalho ok? Por isso é preferível que tu pares de trabalhar, e eu sou o primeiro a incentivar os meus colegas nesse sentido ‘Olha, se tens um filho em casa doente e não estás a conseguir trabalhar, tu não vais conseguir fazer bem as duas coisas e só te vais sentir frustrado. Por isso pára, dedica atenção ao teu filho, e quando puderes trabalha. É só isso.’
(Luis) Certo.
(Rui) E a única coisa que a organização pede é: comunica com os teus colegas o que é que está a acontecer, para eles perceberem que se tu não responderes, não deres resposta a um assunto, eles sabem o que é que está a acontecer. É só isso. Mas mesmo assim, é preciso estar sempre a desconstruir numas pessoas mais do que outras. Muitas pessoas pensam ‘Ok, se eu agora parar uma hora, porque eu não estou a fazer nada em frente ao computador, porque não estou a produzir por uma coisa qualquer, e é preferível parar de trabalhar e voltar mais tarde.’ Há muitas pessoas que pensam que estão entre aspas a “roubar a empresa” ou a “tirar tempo que é da empresa”.
(Luis) Certo.
(Rui) Por isso acho que não existe essa questão de vida pessoal e vida profissional. Existe a tua vida. Ela tem que ser equilibrada.
(Luis) Deste aí um exemplo muito interessante. Às vezes acho que as coisas mais pequenas podem ter um impacto muito grande na cultura. Estavas a falar por exemplo de uma visita ao médico em que vocês não têm essa necessidade de estar a pedir o comprovativo. Acredito que isso seja muito baseado em princípios de confiança, que é ‘Eu confio naquilo que me estás a dizer, por isso não preciso dessa informação. A tua palavra é mais importante do que isso’. Suponho que seja nisso. E tenho a certeza que noutros momentos isso também vai ter um impacto ao contrário, que é quando vocês também falarem as pessoas vão perceber que é a verdade por causa disso. Acho que quando essa relação é criada com a perspectiva da confiança, isso tem mesmo muito impacto. E é muito interessante ver como em pequenas coisas, como em pequenos procedimentos da empresa, isso pode dizer muito sobre a cultura da própria empresa. Por isso acho que é um exemplo espetacular.
(Rui) É curioso, e ainda hoje estava a falar com uma colega nesse sentido, que as coisas surgiram um pouco organicamente na 7Graus. Não foi uma coisa intencional a dizer ‘Ok, nós vamos ter uma cultura mais descontraída, não vai haver aqui estas questões de desconfiança das pessoas que têm de cumprir horário…’ Quer dizer, na realidade tudo se resume à confiança. Se não houver confiança, nada acontece.
(Marta) Rui, do que é que mais te orgulhas no teu trabalho na 7Graus e da cultura de trabalho da 7Graus?
(Rui) Posso dividir e alterar um bocadinho a tua pergunta?
(Marta) Podes! Fiz um dois em um. Certo.
(Rui) Há duas coisas que me dão grande satisfação no trabalho que eu faço na 7Graus: é ver pessoas a crescer. Quando digo crescer é enquanto pessoas e enquanto profissionais. Isto é a coisa que mais satisfação me dá. Do ponto de vista do que me orgulha na 7Graus, é ver que efetivamente as pessoas valorizam isso. A 7Graus nos últimos quatro ou cinco anos, não tenho preciso… concorreu aquele prémio das melhores empresas para trabalhar. E desde a primeira vez que concorremos, fomos consideradas uma das 100 melhores empresas para trabalhar em Portugal. Nós fazemos frequentemente inquéritos à equipa, e um dos pontos que questionamos é o Employer Net Promoter Score, e está sempre acima de 80%. Por tanto, isto é o resultado que efetivamente…se práticas que vamos implementando e a cultura funciona, e as pessoas realmente valorizam e apreciam.
(Luis) Sim, acho que para nós é sempre muito importante perceber… e uma das coisas que foste falando também, explica muito, que é as próprias experiências que os fundadores tiveram acabam por ter um impacto muito grande. E às vezes orgânico, não completamente deliberado. É mesmo uma coisa que vai acontecendo, e que parece o certo a fazer. Não tem a ver com o eu li isto em algum sítio, ou participei ou fiz parte de um MBA e no MBA disseram-me isto. Não, é só ‘Isto foram as minhas vivências e estão traduzidas na nossa forma de trabalhar.’
(Rui) Exatamente. E sabes que é curioso que foi tudo muito orgânico. E a determinada altura achamos que havia necessidade de dedicarmos um bocadinho mais de atenção à questão da cultura, e fomos à procura de aprender e saber mais sobre isso. Verificamos que algumas coisas que fazíamos de forma orgânica, tinham um fundamento. Ou seja, aquilo que está escrito nos livros, ou os frameworks, ou o que quer que seja, os frameworks que existem na gestão de uma cultura da organização, ou de pessoas ou do que quer que seja…Muitas das coisas que já púnhamos em prática, estavam fundamentadas, já existiam, já tinham um nome e ‘Ah, ok, agora percebo porque é que isto que nós fazemos funciona, e que nome damos a isto, muito bem!’. É muito interessante. E às vezes as pessoas perguntam ‘Ah, mas porque é que é assim? Porque é que? (pessoas externas, ou pessoas que chegam à equipa) Porque é que as coisas são assim?’ Não vejo outra forma de fazer as coisas. Para mim isto é …não é forçado. Algumas coisas são trabalhadas intencionalmente, mas não é um esforço, é muito natural.
(Luis) Olha Rui, muito obrigado pela tua experiência e por nos falares um pouco sobre como tem sido a vossa jornada.
(Marta) Obrigada.
(Rui) Obrigado, foi um prazer.